O conto BEIJO DE SANGUE


OBS: O conto BEIJO DE SANGUE é o começo do livro VAMPYRICA, são os primeiros capítulos "enxugados" para ficar em formato de conto. Esse conto está concorrendo para entrar em um livro para ser também ser traduzido para o Espanhol pela editora ASAS DE CORVO.

BEIJO DE SANGUE

Autora: Clara Campos Silva


Em 1415, em um povoado isolado na Escócia, havia um jovem capitão chamado Sebastian Hyiuliger. Ele era responsável por manter a ordem em toda Skara Brae. Praticamente não havia crimes por lá. Sebastian não comandava com mão de ferro, mas também não era pouco rígido, simplesmente fazia valer a lei por lá. O que funcionava no coração da cidade era uma construção grande, de três andares, um grande prostíbulo. A cidade era toda feita de pequenas casas. As casas das pessoas mais importantes eram maiores, todas feitas com tijolos, casas simples com telhas vermelhas.

Um dia, um mensageiro chega a Skara Brae com um telegrama para Sebastian, e nesse telegrama dizia que chegaria à cidade uma Lady, alguém muito importante, e que deveriam arrumar a mansão da colina o quanto antes para receber a tal Lady. No telegrama estava escrito “Condessa vermelha”, mas mesmo assim ele iria se referir a ela como Lady Cassandra. Então, mandou uma grande mão de obra para a mansão da colina para arrumarem tudo.



  • Jonathan, quero que você vá inspecionar a mansão da colina. - Disse Sebastian.

  • Certo, capitão, quem vamos receber?

  • Uma condessa, uma lady chamada Cassandra.

  • O que o senhor acha disso?

  • Gosto quando esse tipo de gente vem para a cidade, gastam muito.

  • Vou subir a colina agora mesmo para ver como está o andamento de tudo por lá.



Jonathan era o braço direito de Sebastian.

Quando Jonathan chegou ao portão da mansão da colina, viu um grande movimento, pessoas limpando a casa, arrumando rachaduras, muitos jardineiros, mas viu algo que lhe chamou atenção: estavam colocando cortinas pesadas nas janelas.



  • Para que isso? - Perguntou Jonathan a um homem carregando uma grande cortina.

  • Parece que essa condessa tem uma doença, não pode pegar muita luz do sol.



Jonathan ficou lá por um tempo e depois voltou para o posto de comando. Lá, comentou tudo com Sebastian. Quando comentou sobre a condição da condessa, Sebastian não esboçou nenhuma reação, só achou que essa condessa não daria muito trabalho, pois aparentemente não sairia muito de casa. Passada uma semana, a mansão ficou impecável, então era só esperar a tal condessa vermelha chegar.

Em uma noite de tempestade, no porto, os oficiais de plantão avistaram, com a ajuda dos relâmpagos, um navio. Então, Rasmunsen mandou seu outro oficial chamar Sebastian às pressas, e depois de um tempo, Sebastian chegou ao porto acompanhado de Jonathan.



  • Veja, senhor, é um grande navio, o que devemos fazer?

  • Acenda o farol, rápido.

  • Será que é a condessa? - Perguntou Jonathan.

  • Espero que não, loucura se aproximar da costa assim com uma tempestade dessas.



Então, com o farol aceso, eles viram que o navio não mudava de rota, ficaram preocupados, então o navio ia chegando cada vez mais perto, até que colidiu com o porto, quebrando quase todas as tábuas, e finalmente encalhou. Sebastian ordenou que trouxessem tábuas para subirem a bordo, Jonathan pediu para subir na frente.



  • O que vê Jonathan? Aonde está a tripulação? - gritou Sebastian ainda no que sobrou do porto da cidade.

  • A tripulação? Está por toda parte, meu Deus...



Ouvindo isso, Sebastian pegou sua espada e pediu para Jonathan fazer o mesmo. Subiu a tábua correndo e, quando chegou ao convés do navio, viu algo assustador: muito sangue, o convés estava praticamente pintado de vermelho. Eles viram algumas partes de corpos também. Alguns outros oficiais não aguentaram e desceram correndo, alguns vomitaram com a cena, mas Sebastian queria investigar o navio todo. Jonathan não gostou da ideia, mas foi atrás de seu capitão. Andaram alguns metros pelo convés, abriram uma porta que levava ao porão, fizeram tochas improvisadas e desceram devagar. “Olá, tem alguém vivo aqui embaixo? Se tiver apareça, meu nome é Sebastian, sou o capitão da guarda de Skara Brae”, mas não tiveram nenhuma resposta, andaram mais um pouco pela bagunça e Sebastian voltou a falar, disse a mesma coisa de novo, mas dessa vez houve resposta.



  • Aqui, senhor, estamos aqui. - Disse uma voz meiga, mas alta.

  • Quem é você?

  • Me chamo Selina, senhor, minha senhora está no andar de baixo, você me ajuda?



Sebastian disse a Jonathan que, já que acharam sobreviventes, teria que mandá-las para a mansão, então mandou Jonathan chamar carruagens para o transporte. Jonathan saiu de lá correndo para fazer o que tinha sido mandado.

Ele chegou mais parto de Selina, ela disse que não tinha um segundo nome, então seguindo ela foram para o andar de baixo para resgatar Lady Cassandra, quando desceram, Sebastian achou o cheiro insuportável, então, antes de abrir a porta mandou Selina dizer o que tinha acontecido ali, a explicação de Selina foi que a embarcação havia sofrido um surto demoníaco, todos enlouqueceram e começaram a comer uns aos outros, e ela correu com Lady Cassandra para o porão do navio, havia muitos gritos e não saiu de perto de Cassandra até que tudo se acalmasse, Sebastian ficou impressionado com a história, e disse que ficou aliviado que ela agiu rápido, ele chutou a porta, Selina gritou para Cassandra e com a luz da tocha ele a iluminou, e viu que ela era muito bonita, uma beleza fora do comum.



  • Quem é você? - Perguntou Cassandra.

  • Sou Sebastian Hyiuliger, milady, oficial chefe da cidade de Skara Brae.

  • Onde está Selina?

  • Estou aqui, senhora.



Todos reunidos, Sebastian as guiou para fora do navio. Chegando do lado de fora, Jonathan já esperava com uma carruagem para Cassandra e alguns cavalos para pegar os pertences que ficaram no navio. Sebastian contou a história para Jonathan, que ficou muito impressionado.



  • Um surto demoníaco? Você acha uma boa ideia tê-las na cidade?

  • Houve algo sinistro sim, mas não acredito em demônios, acho que foi outra coisa, algo como uma desavença, sei lá, mas não demônios. Um surto de raiva, talvez. Mande tudo para a mansão, amanhã vou falar com Cassandra sobre tudo, uma nobre não mentirá para mim, e assim que a chuva parar, vamos queimar esse navio até as cinzas, se houve um surto, não quero que se espalhe, a doença não vai se espalhar na minha cidade.

  • Sim, capitão.



No dia seguinte, pela manhã, Sebastian e outros oficiais fizeram uma ronda no navio para saber se tinham esquecido algo para trás, então mandou incendiar o navio. Depois disso, disse a Jonathan que iria conversar com a condessa, pegou seu cavalo e subiu até a mansão. Chegando à mansão, algo estranho aconteceu, seu cavalo não quis subir, deixou o cavalo amarrado no portão, passou o imenso jardim a pé, e finalmente chegou às grandes portas, bateu e Selina atendeu. Ela o convidou para entrar e ele achou estranho, estava tudo escuro, e do segundo andar ele viu Cassandra, ela desceu as escadas e, segundo ele, ela parecia flutuar pela escadaria.



  • Olá, capitão, a que devo a visita?

  • Lady Cassandra, mandei queimar o navio hoje de manhã, podemos conversar sobre o que houve?

  • Claro, me acompanhe pelo jardim.

  • Mas agora? Está sol.

  • Há vários lugares escuros, não se preocupe comigo.



Então foram aos jardins de trás da mansão. Sebastian dissera à condessa que nunca havia ouvido uma voz tão doce quanto a dela. A voz dela era tão doce, delicada e penetrante que acalmava a alma do homem, e ela dissera que ficara sem jeito com o elogio. Ele perguntou sobre o navio, ela contou uma história convincente, ele pareceu acreditar, e ele perguntou sobre a condição dela à luz do sol, ela tirou uma luva pesada e estendeu a mão ao sol, em segundos, a mão dela começou a ter bolhas e a sangrar, e ele tirou a mão dela do sol rapidamente, ela disse que nenhum médico sabia o que era aquilo, e que ela já estaria acostumada a viver daquele jeito, e disse a ele que não se preocupasse, a mão dela voltaria a ficar normal com o tempo. Então, ele a acompanhou de volta para a mansão, beijou suas mãos com luvas e saiu.

Naquela noite, Sebastian foi para o prostíbulo, se embebedou, voltou para casa com a ajuda de Jonathan, que o colocou na cama e foi para o posto de comando fazer serão.

Sebastian começou a sonhar, sonhou que estava nu e andando por um corredor de cerca viva e um chão de pedras, chegou a uma porta, abriu e viu o jardim da mansão, mas estava tudo diferente, as flores eram vermelhas, quando chegou perto de uma a flor parecia sangrar, a mediada que ia andando, uma fumaça ficava mais densa, e então viu, lá no centro do jardim, uma mulher, cabelos longos pretos e lisos, usava um roupão vermelho, quando chegou mais perto falou algo como, “Olá?”, não houve resposta, mas a mulher se levantou bem devagar, e o roupão caiu, ela também estava nua, então ele conseguiu ver que ela estava perto de uma fonte, ela se virou e ele viu Cassandra, olhando para ele, fazendo sinal para ele se aproximar mais, chegando mais perto, ele perguntou sobre a mão dela, ela mostrou e a mão estava perfeitamente normal, lentamente ela começou a abraçá-lo, a beijá-lo, e ele foi retribuindo as carícias, ela gemia e ele também, então ela começou a dançar, em volta dele, passando a mão nele bem devagar, quando ela voltou para frente dele, ela o beijou, um beijo intenso, quando ele abriu os olhos, levou um susto, os olhos dela estavam amarelos, com o contorno vermelho, mas ela o segurou forte, ele não conseguiu esboçar nenhuma reação, se beijaram novamente, e de repente ele começou a sentir algo quente escorrendo de sua boca, abriu os olhos novamente e viu que era sangue, quando ele olhou para ela novamente, além dos olhos, viu que ela tinha dentes enormes, os olhos dela ficaram vermelhos, eles se beijaram novamente e então ela o mordeu no pescoço, ele soltou um gemido de prazer e logo um de dor, que o fez acordar, “Que sonho estranho”.

Ele demorou um pouco na cama, foi ao banheiro jogar uma água no rosto, quando se olhou no espelho, viu que tinha dois buracos pequenos no pescoço, achou que deveriam ser picadas de um bicho, já que lá havia insetos grandes.

Quando foi trabalhar no dia seguinte, Jonathan brincou, dizendo que a noite deveria ter sido muito boa, pois Sebastian ainda parecia bêbado e estava um pouco pálido. Sebastian não contou para Jonathan, mas ouviu a voz de Cassandra o dia todo em sua cabeça, ela estava chamando-o.

De noite, ele foi a pé até a mansão, as coisas estavam mudadas por lá, tinha mais funcionários que o normal, mas achou não questionar, ele contou a Cassandra sobre seu sonho, e também disse que a voz dela ecoava na cabeça dele o dia todo, ela riu, então subiu para seu quarto com ele, lá eles repetiram o sonho, e ele viu que não conseguia esboçar nenhuma reação, só o que conseguiu dizer foi:



  • Então você é um demônio?

  • Demônio? Não, Sebastian, sou melhor do que um demônio, sou uma vampira, muito antiga.

  • Você vai me matar?

  • Não, eu gosto de você, vou fazer de meu.



Então, ela o jogou na cama, arrancou-lhe toda a roupa, tirou a dela e então subiu nele. Durante o sexo, ele disse que estava com fome. Ela abriu seu próprio pulso e mandou ele beber do sangue dela. Ele o fez, e depois de um tempo, a palidez e o mal-estar nele desapareceram, e ele disse que queria mais, mas ela disse para ele esperar, pois naquela noite haveria algo que acontecia de 8 em 8 meses, a lua iria nascer vermelha. Para os vampiros, era a lua de sangue, era a noite em que ficavam mais famintos e mais fortes. Ela saiu de cima dele, se vestiu e mandou ele fazer o mesmo. Descendo as escadas junto com Sebastian, ela ordenou a todos para montarem nos cavalos e irem em direção à cidade.

Chegando na cidade, foram direto para o prostíbulo, onde Sebastian entrou sozinho, pediu a melhor mulher, e quando foi para o quarto com ela, depois de um tempo, houve um grito, então Cassandra ordenou que todos entrassem e que não poupassem ninguém, em pouco tempo o prostíbulo havia sido dominado, todos morreram, alguns viraram vampiros e começaram a invadir as casas, a cidade de Skara Brae estava condenada.

No meio do caminho, Jonathan encontrou seu capitão bebendo o sangue de uma mulher, chamou o capitão de demônio, lutaram com espadas, Jonathan era um excelente espadachim, mas não tão bom quanto Sebastian, que no final da luta, decapitou o amigo e deu seu corpo para os vampiros beberem o que restava de sangue.

Skara Brae ficou em ruínas, os vampiros foram para outra cidade, e por lá ficaram, não houve mais massacres, viveram na noite, seduzindo seus habitantes. Cassandra, com ajuda de Sebastian, virou a vampira mais poderosa, performou um ritual tido como herege pelos vampiros, e está adormecida até hoje. Skara Brae, com o passar dos anos, virou uma vila subterrânea, e ninguém soube como ela realmente desapareceu.



 

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