O conto O FANTASMA DE CHRISTINE

Esse conto é baseado no livro "CHRISTINE" de STEPHEN KING.

Dexter era um adolescente de estatura mediana, cabelos pretos encaracolados, usava um óculos fundo de garrafa bem desgastado e remendado nas duas hastes, não tinha porte físico, era bem magro e considerado nerd. Seu melhor amigo Hector era bem diferente, era o capitão do time de basquete, era forte, alto, atlético, era careca e não tinha nada de nerd. Na verdade, tinha virado amigo de Dexter, pois precisava de notas para passar de ano. Uma vez, Dexter o ajudou e, desde então, viraram amigos.


  • Vamos estudar na minha casa depois da aula, Hector?

  • Claro, Dex, vamos sim, tenho que passar em química, se eu ficar de recuperação, posso não jogar essa temporada, e estamos a pouco de ganhar a liga das faculdades. Podemos ir juntos para sua casa, almoço lá.

  • Perfeito, vou avisar minha mãe.


Muitos não entendiam o motivo de Hector ser amigo de Dexter; alguns diziam que era só por conta das notas, diziam que Hector usava Dexter para proveito próprio. Dexter sabia desse rumor, mas Hector dizia que não, que na verdade gostava dele como um bom amigo. Às vezes essa história o incomodava, às vezes não.

Depois das aulas, Dexter encontrou Hector fora da escola. Foram andando até a casa de Dexter, que não era longe. No caminho, passavam pelo ferro-velho do velho Herbert, um homem bem velho, que sempre tinha uma história fantasmagórica para contar. Os dois gostavam de ouvir e rir um pouco. Quando estavam passando bem na frente, viram um guincho deixando um carro lá, um Plymouth Fury, todo enferrujado, com os vidros quebrados.


  • Brinquedo novo, Herb? — Disse Hector, brincando.

  • Olá, rapazes. Um Plymouth Fury de 1958, uma raridade.

  • Esse tem alguma história? — Perguntou Dexter.

  • Tudo aqui tem uma história, rapaz, e a história desse é interessante. Como estou com pouco tempo, vou resumir: esse carro pertenceu a uma meretriz chamada Christine, uma meretriz que trabalhava para a máfia, e um dia ela caiu em uma espécie de emboscada, e a mataram no banco de trás. Vejam, ainda podem ver as marcas de sangue no banco.

  • Quanto quer pelo carro? — Perguntou Dexter.

  • Nesse estado? Não quero roubar você, rapaz, vou cobrar R$ 1.000.

  • Só mil? Feito, eu compro.

  • O que está fazendo Dex? Esse dinheiro era para o seu futuro, lembra? — disse Hector.

  • Sim, mas quero ser popular, então quero ter um carro maneiro, e onde mais vou ter um carro por somente mil pratas? Senhor Herb, posso trabalhar nele aqui?

  • Claro, pode usar o galpão 6.


Levaram o carro até o galpão e depois foram para a casa de Dexter, almoçar e estudar.

No almoço, contaram aos pais de Dexter sobre a compra do carro. A mãe dele não gostou de saber de nada daquilo, mas o pai não achou ruim, até porque ele prometeu que iria repor o dinheiro.

Estudaram a tarde inteira; Hector estava saindo de lá já de noite. “Quando o carro estiver pronto, posso te levar pra casa nessas ocasiões”, disse Dexter antes de se despedir do amigo.

No dia seguinte, depois das aulas, Dexter não perdeu tempo, foi direto para o ferro-velho trabalhar no carro. Hector tinha ficado preocupado, pois não tinha visto o amigo o dia inteiro, então, depois das aulas, foi para casa, almoçou e foi para o ferro-velho.


  • Achei mesmo que o acharia aqui.

  • Oi, Hector, estou animado, e aqui nesse ferro-velho posso revitalizar essa belezinha bem rápido.

  • Eu não te vi o dia todo.

  • Estava na biblioteca pegando livros de mecânica, pesquisando sobre o carro. Quero que se pareça com o original, como se tivesse saído da fábrica. Você sabia que só fizeram cinquenta desse modelo e que o velho Herb não está inventando dessa vez? Christine morreu mesmo nesse carro.

  • Nossa, que interessante. Vamos estudar amanhã?

  • Claro, almoço na minha casa de novo?

  • Claro. Não vou poder ficar, tenho treino daqui a pouco.


Os dois se despediram, Dexter ficou trabalhando no carro e Hector voltou para a universidade para treinar.

Na hora do jantar, a mãe de Dexter ligou para Hector, pois o filho não aparecera em casa o dia todo. Hector disse que deveria estar no ferro-velho, trabalhando no carro, mas disse que passaria lá para dar uma olhada no amigo e despreocupar a senhora Rita.


  • Olá, Dex.

  • Olá, Hector.

  • Está ficando bom, bom trabalho no capô.

  • Obrigado.

  • Vamos para casa, amigo, já está tarde.

  • Só mais um pouco.

  • Passou a tarde toda aqui? O dia inteiro?

  • Sim, vai ser um trabalho árduo, tem muita ferrugem.

  • Legal, amigo, agora vamos para casa, sua mãe está preocupada.


Hector levou o amigo para casa, e assim que chegou, a mãe de Dexter deu-lhe uma grande bronca e agradeceu Hector.

No dia seguinte, Hector não viu o amigo e descobriu que ele nem tinha ido para as aulas. Depois das aulas, foi direto para o ferro-velho, e lá estava o amigo. Hector deu-lhe uma grande bronca.


  • Virou o quê, minha mãe? — disse Dexter irritado.

  • Não, mas estou preocupado com você. Desde que comprou essa coisa, você está obcecado, até faltou às aulas hoje, coisa que você nunca fez.

  • Eu tenho nota o suficiente para faltar, eu passo do mesmo jeito.

  • Sabe que não é assim que funciona.

  • Cansei de viver na sua sombra, nunca mais.

  • Você não vive na minha sombra.

  • É fácil para você falar, você é popular. Me faz um favor, diz pra minha mãe que vou dormir na sua casa hoje.

  • Vai ficar e trabalhar no carro a noite toda?

  • Qual o problema?

  • Dessa vez passa, não se esqueça de comer.


Hector fez o que o amigo pediu: mentiu para a mãe de Dexter.

De madrugada, Hector recebeu um telefonema de Herbert, pedindo para ele ir logo para o ferro-velho. Como era para ajudar seu amigo, Hector saiu escondido no meio da madrugada e foi. Chegando lá, Herbert disse para Hector dar uma olhada no amigo e principalmente para mandá-lo diminuir a música, pois estavam no meio da madrugada e isso poderia trazer problemas. Quando chegou perto do galpão, havia, sim, uma música alta, música que parecia antiga. Bateu na porta de metal, mas não houve resposta. Bateu com mais força e nada. Então decidiu entrar por uma janela aberta. Assim que entrou, viu o amigo no banco de trás, seminu, se masturbando, e então desligou o rádio do carro. Assim que o silêncio se fez presente, Dexter abriu os olhos e falou com raiva.


  • Cai fora, liga esse rádio de novo!

  • Então é para isso que você está aqui sozinho, brincando com você mesmo?

  • Estava transando com a Christine, cara, agora ela deve estar escondida.

  • Transar e se masturbar não é a mesma coisa, Dexter. Vamos, vou esquecer que vi isso e vou levar você para casa.

  • Eu não terminei com a Christine.

  • Christine Eldenheart morreu há anos, pode ter sido nesse carro, mas ela não estava com você.

  • Estava sim, e ela é gostosa.


Hector deu um tapa na cara do amigo, que pareceu ter um lampejo de realidade, então Hector conseguiu tirar o amigo de lá e levá-lo para casa.

Semanas se passaram e nada de Dexter se apresentar na faculdade. Hector também tinha dado de ombros, mas, depois de algumas semanas, passou no ferro-velho. Assim que chegou, viu o carro do lado de fora, todo pronto, parecia novo, parecia que havia acabado de sair da fábrica.


  • Ficou lindo — disse meio tímido.

  • Ficou, agora vou levar Christine para um passeio.

  • Christine é o nome do carro?

  • Pode-se dizer que é.


Hector não gostava de ver o amigo que outrora era amigável, gentil, agora era áspero, grosso com os outros, achava que aquela obsessão com o carro tinha que acabar, foi falar com os pais de Dexter. Naquela noite, os pais de Dexter pegaram o carro e saíram com ele, rodaram muito e o abandonaram na floresta. Achavam que assim acabaria com tudo aquilo, pensaram em contar uma história de que o carro havia sido roubado, combinaram tudo com Herbert e até pagaram a ele para mentir sobre tudo.

Dexter voltou para o galpão naquela noite e não havia carro, então Herbert contou a história, e Dexter ficou transtornado, pediu ajuda à polícia e, depois de muitas horas, acharam o carro, voltou para casa, seus pais não estavam, ficou pensando horas sozinho, entrou no carro e voltou para o galpão.

Ficou horas no banco de trás do carro, pensando. Quando bateu meia-noite, ouviu a voz suave de uma mulher, fechou os olhos e, de repente, se viu com Christine de novo. Ela pediu para ele acelerar para saírem dali, ele obedeceu. Tudo o que ele pensava era: “Nunca mais vão nos separar de novo, meu amor”. Chegaram ao alto de uma colina e lá colocaram uma música alta e começaram a transar no banco de trás.

A polícia bateu na porta de Hector, fez perguntas sobre Dexter, mas ele não soube responder, e nem soube responder sobre o que tinha acontecido com os pais do amigo. Quando a polícia saiu, Hector pegou o carro de seu pai e foi atrás do amigo; não queria acreditar no que a polícia tinha dito a ele. Mas, passando pela cidade, que não era grande, viu um pouco do caos, então pensou e foi para o alto da colina onde o amigo estava.


  • Sabia que te encontraria aqui.

  • Me deixa em paz, porra!

  • Esse não é você, Dex.


Nesse momento, a porta do outro lado se abre e de lá sai uma mulher, linda, deslumbrante.


  • Olá, Hector, me chamo Christine.

  • Mas... mas... mas...

  • Sim, estou morta, e agradeço ao seu amigo por me trazer de volta à vida.

  • Isso é impossível.


Nesse momento, Christine deu um beijo molhado em Dexter, puxou uma pistola e atirou em Hector, bem no ombro, mandou eles entrarem no carro. Quando estavam saindo, passaram por cima do braço de Hector, que gritou de dor. Mas, mesmo assim, ele conseguiu entrar em seu carro e foi seguindo Dexter, seguiu até um prédio abandonado. Hector entrou no prédio atropelando tudo, até bater no carro de Dexter, fazendo um grande estrago na lateral.


  • Olha o que você fez, seu idiota! — gritou Dexter.


Dexter arrancou Hector do carro, estava em fúria, pôs Hector de pé só para dar um soco no rosto dele e ele cair no chão.


  • Não vou mais viver na sua sombra, Hector, não vou ser mais humilhado na faculdade, Christine e eu vamos viver juntos, para sempre.

  • Esse não é você, Dex — disse Hector, quando em um sussurro.


Christine só observava e sorria diabolicamente. Christine agarrou Hector pelos cabelos, deu-lhe um beijo, que fez Hector vomitar. “Olhe com atenção”, disse em uma voz macabra, abriu o porta-malas do Plymouth e lá estavam os corpos dos pais de Dexter. Nesse momento, Dexter teve um breve momento de sanidade, viu o porta-malas e começou a chorar.


  • Chorando, Dex querido? Você fez isso! - Disse Christine.

  • Quando?

  • Você realmente acha que você é dono das suas ações? Você é meu escravo queridinho.


Dexter então mudou o rosto, agora estava sorrindo. Christine dizia que o próximo a morrer seria Hector, e Hector começara a gritar para o amigo se livrar do carro, para que voltasse a si, mas Dexter estava possuído, dizia que amava demais o carro e ela. Hector então começou a revidar os socos, mas como estava muito machucado, não adiantou muito; o que adiantava eram os lampejos de sanidade. Com isso, Christine ficou irada, começou a bater em Dexter, pegou uma chave de roda e começou a bater mais forte em Dexter, conseguiu deixar os dois bem atrás do Plymouth, entrou no carro, deu marcha ré, bateu nos dois, mas como não estava muito rápido, só machucou e muito os dois.


  • Pra que está fazendo isso, meu amor? — Perguntou Dexter.

  • Você é fraco, Dexter, não posso me envolver com gente assim, pare de chorar!


Nesse momento, Hector entrou no Plymouth e começou a acelerar, deu várias voltas com o carro até pegar velocidade, Dexter só gritava: “Pare com isso!!!”, e Christine só ria e dizia que não podia ser atropelada, pois já estava morta, então acelerou com tudo em uma parede de ferro do prédio, antes de se esborrachar na parede pulou fora, e o carro bateu com força. Dexter chorou e foi mancando para o carro, que bateu com tanta força que começou a vazar gasolina. Nesse momento, Dexter entrou no banco de trás do carro, se deitou e começou a gritar: “O QUE VOCÊ FEZ???”, Christine se virou para Hector.


  • Você acha que, batendo o carro, eu vou desaparecer?

  • Não, você não está ligada ao carro, mas sim a Dexter.


Nesse momento, acendeu um fósforo e jogou no rastro de gasolina que vazava do carro. Tudo começou a pegar fogo, o carro e Dexter começaram a pegar fogo. Dexter saiu correndo como se fosse uma grande bola de fogo. Quando finalmente caiu no chão sem vida, Christine desapareceu. Bombeiros apareceram algum tempo depois, junto com a polícia. Hector inventou uma história cabeluda sobre uma gangue que conseguiu fugir e foi tido como herói.

Hector só pediu uma coisa: que levassem o carro para o galpão onde tudo havia começado, e lá manteve o carro do jeito que estava, queimado e destruído. Ainda havia visitas de Christine para ele, mas ela nunca mais foi forte para atormentá-lo, e lá manteve o carro destruído até o dia de sua morte.


 

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